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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A FORÇA DA MÍDIA


O poder da mídia

O poder da mídia para imbecilizar o cidadão é inquestionável. É notória sua capacidade para levar populações inteiras do ridículo ao absurdo sem que elas sequer percebam isso. A publicidade manipula e seduz, transformando o indivíduo em consumidor passivo de tudo aquilo que de maneira atraente e dissimulada lhe é imposto. Consumir virou sinônimo de status e de felicidade. Desse modo, a sociedade é dividida e classificada em dois blocos: os incluídos e os excluídos, ou seja, os que têm poder econômico para consumir e os que não têm.
A mídia, de modo geral, deixou há muito de representar um instrumento imparcial de divulgação de informações e fatos.
Passou a ser uma poderosa formadora de opiniões, agindo exclusivamente segundo aquilo que possa trazer aos seus donos maiores retornos financeiros. O marketing empresarial, através da mídia, conseguiu a perfeição na arte de incutir na mente das pessoas necessidades que elas não têm. Para isso conta com outra poderosa aliada: a psicologia empresarial. O profissional do marketing doura a pílula, e o psicólogo encontra as brechas na psique coletiva para induzir a massa a devorá-la. Era de se esperar que não fosse assim.
Era de se esperar que aqueles que estudam e adquirem conhecimentos fossem diferentes. Mas o aporte de conhecimentos não muda comportamentos. As escolas que formam os profissionais da propaganda não fornecem aos seus alunos os necessários conceitos éticos de honestidade e integridade moral. Limitam-se a fazer com que eles se atenham exclusivamente à função de gerar lucros. Salvo exceções, os profissionais da comunicação de massa, tanto quanto os psicólogos que atuam no ramo, não têm consciência nem visão analítica para concluir que os atuais mecanismos de mercado estão conduzindo a economia mundial para crises permanentes e incontroláveis. O sistema já apresenta sinais claros de esgotamento. Mas o óbvio, por dispensar demonstrações, é difícil de ser percebido.
Quando idealizou o modelo capitalista de produção, Adam Smith pensou ter criado um sistema perfeito. Um sistema econômico que encontraria seu auto-equilíbrio pela ação de uma "mão invisível". Mas Adam Smith era mais um filósofo do que um economista. Sua postura filosófica positivista de credulidade levou-o a não acrescentar à lógica do seu sistema variáveis como a avareza, a ganância e o egoísmo, que a priori caracterizam a natureza humana.


Assim, o que sobreveio foi exatamente o oposto do esperado. O sistema capitalista não se auto-equilibra e, portanto, não é funcional. É totalmente contrário ao aspecto subjetivo e luminoso da natureza humana, e condizente justamente com seu lado obscuro e negativo. A lógica do sistema fomenta a valorização e o acúmulo de bens materiais, em detrimento dos valores anímicos da espécie.
O que mantém o equilíbrio de qualquer sistema é a interação harmoniosa entre seus elementos internos, bem como a troca de energia com o ambiente externo. A energia do sistema capitalista é o capital, representado por seu símbolo mais característico: o dinheiro. Longe de promover o fluxo equilibrado do capital - a energia -, o mecanismo do sistema atua de modo a promover sua concentração interna e a retirada, de maneira insustentável, da energia do ambiente. O sistema suga muito mais energia do ambiente do que devolve. Em longo prazo, essa descompensação energética trará resultados imprevisíveis e catastróficos.
O modelo capitalista de produção tem pouco mais de duzentos anos. Considerado em escala histórica, esse período é insignificante. Apesar de sua curta existência, os pontos de concentração da energia, progressiva e aceleradamente, vão gerando o desequilíbrio em toda a estrutura do sistema. Os demais elementos internos que estão carentes de equilíbrio, para não sucumbirem, se ligam aos pontos de concentração, que aproveitam a oportunidade para subtrair-lhes ainda mais energia, mantendo-os, contudo, ativos e semiconscientes, de modo a que possam manter contínuo o fluxo do processo. A energia, que é apenas um meio, passa a ser um fim em si mesma. E aí reside toda a desgraça. A coisa toda funciona à semelhança de um bando de predadores vorazes que estão se empanturrando até à indigestão. Um dia, seus estômagos dilatados e exauridos irão explodir e varrer tudo aquilo que estiver a sua volta. O sistema se auto-aniquilará pela própria ganância.


A dignidade humana precisa ser urgentemente resgatada.
O que diferencia o homem de um animal estúpido não é a racionalidade nem o volume de conhecimentos que detém, mas a nobreza de seus propósitos. A mídia e a parceira psicologia estão dispostas a vender a alma e a se render ao fascínio capitalista, à lógica do lucro a qualquer custo.
A questão central não é, e nem nunca foi, se os meios utilizados são lícitos ou ilícitos, mas a maquiavélica suposição de que "os fins justificam os meios". A realidade se resume ao dinheiro, à sede de glória e poder, ao esvaziamento de sentido. O tempo e a contumácia geram o hábito, e o hábito produz a cegueira. A apregoada liberdade capitalista, não devidamente conduzida, levou ao esfacelamento da razão. E ainda há psicólogos escritores que são suficientemente insensatos para tecerem em seus livros comentários irônicos a respeito de conceitos universais da Filosofia, quando a Filosofia aparenta ser a única ciência que ainda não se rendeu ao fascínio capitalista.
A psicologia usada em favor da propaganda perde sua neutralidade científica para compactuar com os mecanismos de mercado que geram o caos social. Assim, quando usa seus conhecimentos em favor da mídia capitalista, o psicólogo esbarra nas sutilezas incômodas da ética. Justificando-se, afirma que os meios de comunicação de massa não possuem o controle absoluto da subjetividade humana.

Contudo, sabemos que uma das funções - bem-sucedida - do marketing é a de convencer as massas de necessidades que, a rigor, elas não têm. Tem sido assim desde sempre. Desse modo, o domínio absoluto da subjetividade humana pelo sistema, em cada etapa do processo, é só uma questão de tempo. Quando a sociedade resiste às investidas de uma propaganda, só o faz porque alguma outra chegou antes e o espaço mental dos consumidores potenciais já está tomado. Trata-se de um círculo vicioso do qual o psicólogo só teria pleno e real conhecimento se recorresse à luz ampla da Filosofia. Da mesma Filosofia que ironiza. A justificativa do psicólogo é, pois, tão inútil e inconsistente como perfeitamente alinhada aos objetivos do sistema ao qual se dedica a servir.
O fluxo do sistema capitalista, para dominar e explorar a massa, usa a tática da necessidade-satisfação-necessidade.


Quando o marketing divulga um produto no mercado, já sabe de antemão qual será o seu sucessor. As fábricas de automóveis são seus exemplos mais evidentes. A suposta necessidade, uma vez satisfeita, gera o vazio que induz a uma nova pseudo-necessidade. A libertação desse processo contumaz só seria possível pelo uso do intelecto alinhado à Filosofia. Mas a massa perdeu o hábito de pensar e principalmente o de se auto-avaliar. A ignorância e a miséria de conteúdos também podem, e são, negociadas pela mídia. Basta olhar para os programas de maior sucesso da TV.
Aliás, trata-se aqui das outras frentes da mídia que cuidam para que sociedade continue assim: ignorante e burra. Sufocado e tolhido pelo materialismo exacerbado e pelo brilho das aparências, o intelecto coletivo apodrece. O mau-cheiro da podridão, contudo, não é percebido, disfarçado que é pela vasta perfumaria livremente oferecida pela mídia voraz.
Não fosse pela triste e perigosa corrupção capitalista, a função mais nobre da psicologia haveria de ser a de descobrir meios eficazes que educassem a sociedade e a preparassem para resistir às artimanhas publicitárias. Artimanhas como criar em torno de um produto uma realidade que o seu consumidor jamais poderá vivenciar, mas que, inconscientemente esperançoso dela, vincula tal realidade ao produto oferecido e o compra.
Penso que a psicologia, assim como a educação, o sacerdócio, a política, a medicina, antes de serem meios de enriquecimento, representam as mais sublimes missões delegadas a seres humanos. Aqueles que optam por se dedicarem a estas atividades devem avaliar até onde estão dispostos a agirem como transformadores do mundo ou meros agentes de acumulação de riquezas. Se optarem pelo enriquecimento, devem se dedicar a outros ramos de atividades.
Ninguém os condenará por isso. E a humanidade ainda lhes será profundamente grata pela magnanimidade e nobreza de seu gesto, ao se absterem de tornar o exercício da existência muito mais cruel e desumano do que, por si só, ele já o é.

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