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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Favelas do Brasil tornam-se atracção turística


No Brasil, a pobreza já se transformou numa atração turística, em que as agências vendem o "exótico" para atrair os que procuram "experiências inusitadas" nas favelas.
Autora de investigação sobre a favela carioca como destino turístico e do livro recentemente publicado no Brasil, "Gringo na Laje", a socióloga Bianca Freire-Medeiros diz que a pobreza como mercadoria é um fenómeno global.
"Não é exclusividade do Brasil" e data da década de 1990, explicou a socióloga à "Lusa".
"A curiosidade não é nova, mas eu tento entender o que muda. O turismo na favela tem razão de ser, porque é diferente, uma experiência em primeira mão com uma dimensão de aventura. Há uma questão mercadológica de compra e venda com investimento em marketing", adiantou a investigadora.
Freire-Medeiros, que esteve nas "townships" (bairros degradados) da África do Sul e em Dharavi, a maior "slum" da Índia, concentra o seu estudo na favela Rocinha, a maior da América Latina, onde o turismo já se realiza há 10 anos e tem-se revelado um empreendimento lucrativo.
Desde 2006, a Rocinha é ponto turístico oficial e figura nos guias sobre o Rio de Janeiro. Só nesta favela, circulam em média por mês 3.500 turistas, na sua maioria de europeus (60%).
Na favela operam pelo menos quatro agências de turismo com os mais diferentes nomes: Jeep Tour, Exotic Tour, Favela Tour e Indiana Jungle Tours, todas com ousadas ofertas de ecoturismo ou turismo cultural.
Seria o "lado alternativo da mais bela e exótica cidade do mundo", segundo a autora, que destaca no estudo a venda da favela como um destino alternativo ao convencional e também a ideia de "que a partir da favela, é possível explicar o Brasil".
"Eles (turistas) acham que ir à favela complementa a experiência de conhecer o Rio, ver o que é desigualdade. Na Rocinha existe, de facto, um mercado, mas há também iniciativas em outras favelas. Cada localidade trabalha um atributo diferente, mas todas partilham a pobreza como a grande atracção".
A relação favela e violência também é posta em questão quando as agências prometem um "contacto seguro com a violência armada". O risco é parte da atracção, acrescenta.
Para além de ser um negócio rentável, muito solicitado e com um alto nível de satisfação do cliente, a investigadora disse que esta curiosidade que motiva tantos estrangeiros pode servir como um elemento de reflexão.
"É importante o facto de quem vem de fora perceber o contraste entre pobreza e riqueza. Parece curioso, mas (nós brasileiros) convivermos com este contraste, também é perverso", criticou.

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